Pode parecer meio confuso o título dessa crítica, mas vou tentar justificar ao longo do texto. Falando de mais uma produção da Netflix, dessa vez temos uma série num apocalipse zumbi. O gênero, que faz muito sucesso mundo afora, dessa vez foi explorado em terras brasileiras. É bem verdade que Reality Z é uma inspiração direta da inglesa “Dead Set”, onde a premissa é: o mundo acabou de uma hora para outra e as pessoas que morrem, voltam, sedentas por carne humana sem uma explicação.
É bem verdade também que o gênero está desgastado, com Hollywood fazendo filmes e séries aos montes sobre essa temática. Outro conteúdo que já saturou o mercado é a infindável “The Walking Dead”, da AMC, onde até o protagonista abandonou.
Mas estamos aqui para falar de Reality Z. Na história temos o reality Olimpo, onde os participantes são representações dos deuses gregos e, à la “BBB” e “A Fazenda”, estão confinados passando por provas e festas. Enfim, o pacote completo. Sabrina Sato, que participou do BBB 3, é a cereja no bolo que a série só mostra no seu decorrer. A participação da ex-sister é como apresentadora do programa. Posição de destaque na história da série, mas não na série em si, estando pouco em tela até. Vale destacar a morte da atriz na série, que de tão caricata pareceu ser filmada apenas pelo meme.
Apresentando seu cenário, Reality Z mostra como o mundo vai desandando, enquanto vamos vendo uma eliminação do Olimpo. E os mundos se juntam, quando o diretor malicioso do programa corta as notícias para colocar seu programa no ar. E na loucura de não ver o que tá rolando fora dos estúdios da TV 3, o barco segue. E nele vemos rostos famosos como Jesus Luz (ex da Madonna), Guilherme Weber entre outros. Já com a platéia toda infectada, os mortos-vivos começam a aterrorizar os bastidores do programa, comendo e transformando quase todo mundo em zumbi, numa escalada, muito bem feita, do gore na série.
Boas trocas nos personagens principais, mas atuações fracas
Um dos pontos que mais somam a história é a falta de apreço por seus protagonistas. Você começa acompanhando a história dos confinados no Olimpo, sua equipe e adjuntos e, conforme os episódios vão passando, todos eles vão morrendo. Com isso, a série também consegue trabalhar com os estereótipos do povo brasileiro, com mais ênfase no Rio de Janeiro. Temos o político corrupto, os policiais truculentos e já viciados pelo sistema (e pelas drogas), temos a família suburbana… Enfim, tudo que a gente já viu em alguma novela de Manuel Carlos ou em algum filme do José Padilha jogados nesse caldeirão. E claro, todos só têm um objetivo: o Olimpo.
Porém, alguns dos novos rostos escolhidos pela equipe da produtora Conspiração deixam a desejar na hora de entregar um pouco mais nas cenas. Ou pelo contrário: por exagerarem demais em momentos que não se exigia tanto uma carga dramática. Numa dinâmica de RPG (role-playing game, uma categoria de jogo de interpretação), vamos perdendo personagens, vendo seus conflitos e desenvolvimentos nas missões que se apresentam dentro da casa.
Algumas escolhas de roteiro também são duvidosas, quando personagens que pouco se conhecem ou com pouco tempo de relacionamento se importam demais uns com os outros. Porém, neste ponto você já percebeu que a série não se leva tanto à sério, então podemos não levar também.
No quesito representatividade, a série traz alguns grupos à tela, mas também erra ao matá-los primeiro ou comentando alguns deslizes em falas bem racistas e LGBTfóbicas. O alento é a última das protagonistas ser uma mulher negra, que durante toda a história foi tratada como “carne para os mortos” na saga do deputado da série pra chegar ao seu objetivo.
Mais para o fim da trama, temos o Olimpo como “refúgio” dos sobreviventes. E claro que temos a disputa desse espaço. Talvez não à toa tendo esse nome, invasões e batalhas MUITO sangrentas são travadas na casa dos deuses, remetendo ao Monte Olimpo da cultura grega, que também foi palco de duras lutas.
E o desfecho aqui seguiu a tendência da série: muito zumbi comendo as entranhas dos humanos, traições entre os vivos e todo mundo morto! Desde o deputado que prometia um recomeço até um grupo de milícia que acaba chegando no último momento do jogo. Todo mundo vira comida de morto-vivo.
Quanto à uma segunda temporada, ainda não temos a confirmação oficial da Netflix ou da produtora da série. Porém, as últimas produções feitas no Brasil não conseguiram sobrevida após a primeira temporada. O certo é que neste primeiro ato, Reality Z conseguiu entreter, divertir, assustar e trazer muito gore pra tela. A série tropeça em erros bobos, que para um espectador mais exigente, pode incomodar, mas até aí, grande produções gringas também fazem isso e vida que segue.
Nota do Dedey: 2,5/5,0